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VÍDEO: pintora predial comanda trabalho voluntário de manutenção em escola da cidade

Luísa Neves

Foto: Renan Mattos (Diário)
Eva seguiu os passos dos pais para desenvolver o trabalho voluntário

Entre tintas, pincéis, pregos, martelo, cimento e tijolos, a pintora predial Eva Fernandes Soares movimenta a comunidade onde mora. Aos 54 anos, ela não encontra dificuldades de, literalmente, colocar a mão na massa e mudar a imagem de creches, centros comunitários e escolas que precisam de pequenos ou grandes reparos.

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Integrante do Nível 8, grupo de mulheres que trabalha na construção civil, ela ainda agrega moradoras da Região Norte da cidade que desejam aprender o ofício para ter uma renda extra ou para fazer a manutenção de casa.

Eva conta que estava em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na Vila Kennedy quando viu o anúncio de um curso de assentamento de cerâmica. Sem pensar duas vezes, ela se inscreveu e, com esse dom de motivar os outros, chamou amigas a participarem. 

- A iniciativa era da professora do curso de Enfermagem da Universidade de Santa Maria (UFSM) Maria Celeste Landerval, com o objetivo de dar às mulheres empoderamento em uma área que, na maioria das vezes, é atribuída a homens. O grupo Nível 8, por exemplo, vai chegar ao nível 10, somente quando as mulheres forem respeitadas na construção civil. Depois das primeiras instruções, precisava praticar o que havíamos aprendido, porém, com um sentido diferente: o voluntariado. Perdi as contas de quantas mulheres se juntaram a nós para fazer o que antes era "serviço de homem". Hoje, elas se sentem seguras e orgulhosas de darem conta do recado, seja na troca do piso ou na pintura de paredes.

PARTE DA ESCOLA
Na Escola Érico Veríssimo, Eva encontrou o lugar certo para levar adiante a missão que recebeu por meio dos exemplo dos pais, Nadir e Rita Soares, falecidos. Ele, também do ramo da construção, fazia mutirões para fazer abrigamento para desfavorecidos. Já dona Rita foi aquela vizinha que atendia os doentes, aplicando injeções e socorrendo a quem precisasse dela.

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Mãe de Roberto, 38, João Batista, 35, Guilherme, 17, e Giovana, 15, Eva se orgulha de ver nos filhos a mesma disposição e inquietamento em arrumar, consertar ou apenas deixar mais bonito o lugar onde moram, trabalham ou estudam.

- Quando Guilherme estava na pré-escola viu a parede do banheiro pichada com palavrões. Indignado, ele chegou em casa e pediu que eu fizesse algo, que limpasse aquilo para que outras crianças não lessem e a escola ficasse feia. Desde então, me coloquei à disposição de cuidar da Escola Érico Veríssimo, na qual meus filhos mais velhos estudaram e a caçula ainda estuda.

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INSPIRAÇÃO PARA OUTRAS MULHERES
Para a vice-diretora da Érico Veríssimo, Camila Noal Selle, 28 anos, o trabalho que Eva realiza mostra definitivamente que as mulheres também tem espaço na construção civil.

- Ela é a prova que a mulher é capaz de fazer um serviço tão bem quanto um homem. Admiro muito a história da Eva, de tentar compartilhar o que ela sabe para o bem comum. Os alunos gostam dela e a ajudam no trabalho. Ela sempre recebe elogios deles.

Da mesma forma, a diretora, Mariane Brandão, 29 anos, tem na voluntária uma referência de disposição, solidariedade e ajuda mútua. Mariane foi aluna da Érico Veríssimo por nove anos e tem uma relação especial com a escola. A diretora conta que nas férias, ela e Eva iam todos os dias para fazer reparos no prédio escolar. Após o início das aulas, Eva passou a comparecer de três a quatro dias por semana. Ela conta que Eva ajuda no que for preciso, desde a pintura de paredes e do portão de entrada até o plantio de flores e plantas. A diretora confessa que mesmo Eva não sendo aluna nem funcionária, ela tem seu espaço de convívio na instituição.

- Pra nós ela faz parte da escola. O melhor é a relação dela com os alunos, ainda mais por ser mãe de aluna. Todo mundo respeita o trabalho dela, eles (alunos) ajudam a conservar todas as melhorias que a Eva faz aqui.

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Aos 19 anos, a estudante Larissa Silveira do Santos já segue o exemplo da pintora predial. O pouco tempo de convivência com a benfeitora deu-lhe motivação para cooperar com as necessidades da escola, o que exerce por meio das ações aprendidas com Eva.

- Foi através de um convite dela (Eva) que vim ajudar aqui. Como estou livre no período manhã, aceitei o convite. Encaro esse trabalho voluntário como uma experiência de vida, principalmente por estar ao lado de uma pessoa simpática, com boa vontade e alegre, como a Eva.

TUDO É SEMENTE
Eva sempre contou com o apoio da família para a missão que leva adiante. O marido, Adolfo Félix de Oliveira, falecido há oito anos, era um dos principais incentivadores dos propósitos dessa porto-alegrense que se mudou para Santa Maria para construir uma casa melhor para os pais. Juntos às irmãs, Elaine e Roselaine, ela não se aquietou enquanto não os viu em um lar seguro e confortável.

- Meus pais se mudaram para o Coração do Rio Grande antes de mim. Quando vim visitá-los, me apavorei com as condições de moradia deles, já que em Porto Alegre eles tinham uma chácara com tudo o que precisavam. Mas, ao chegar aqui, a realidade mudou. Então, fiz o que achava ser o certo. Acomodá-los da melhor maneira possível. Hoje, moro na casa que era deles, a qual ajudei a construir. Cada ação positiva que a gente faz é uma semente. Às vezes, os frutos vêm de outras mãos ou em outro tempo, mas é certo que eles chegam. Se eu não colher hoje, meu netos Gabriel, Bianca, Pedro, Mateus, Sofia e Caio irão ser alcançados. E sabem o que será a minha principal recompensa? Saber que eles serão as próximas sementes - emociona-se Eva.

*Colaborou Rubens Guilherme Santos

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